sex, 29 março 2024
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Qual partido será a nova casa de Bolsonaro

Era por volta das 8h30 da segunda-feira, 1º de fevereiro, quando Jair Bolsonaro saiu do Palácio da Alvorada para um dos dias mais importantes de seu governo desde a posse. À noite, o presidente teria consolidada sua principal vitória política em dois anos à frente do Executivo, elegendo os aliados Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o comando da Câmara dos Deputados e do Senado, respectivamente. Sereno, mas quase monossilábico, cumprimentou apoiadores e posou para fotos com eles por quase cinco minutos, ouvindo verdadeiros louvores: “Você é o escolhido”; “Jesus te ama”; “A partir de hoje, presidente, vai ser um novo momento”. Só reagiu quando foi questionado por um dos comungantes sobre seu futuro partidário. “Eu começo a discutir (a entrada numa legenda) a partir de amanhã.” Questionado sobre se seria o Aliança pelo Brasil, que tenta colocar em pé há um ano, desde que saiu do PSL, admitiu: “Olha, vai ser difícil formar o partido, viu? Vai ser difícil formar, problema burocrático. Então tem que pensar numa outra alternativa aí”.

Mas para onde irá Jair Bolsonaro? Oficialmente, o horizonte de possibilidades é amplo, diverso e o mais heterogêneo possível. As opções vão do Progressistas de Lira ao PTB e ao PL dos mensaleiros Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto, respectivamente. Do nanico de aluguel Patriota, comandado pelo inexpressivo Adilson Barroso, ao partido da Igreja Universal, o Republicanos, de Marcos Pereira e Marcelo Crivella. A escolha da nova legenda, no entanto, não é uma equação simples e deve consumir os próximos dois meses até uma decisão final. Todos os que se apresentam como possibilidade têm seus senões, desde racha interno, até falta de garantia do controle de partido e escândalos de corrupção. “Agora estamos tendo tempo para discutir esse assunto. Em 2018 não deu tempo”, disse Bolsonaro ao mesmo apoiador.

O PP se tornou uma opção viável após a vitória de Lira na Câmara. A sigla, comandada pelo senador Ciro Nogueira (PI), tem atualmente 42 deputados, entre eles o líder do governo Ricardo Barros (PR). Nogueira virou peça chave para entender a guinada de Bolsonaro durante a pandemia, quando abandonou os ataques sistemáticos ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF) e passou a construir de maneira pragmática uma base de apoio consistente. Ele capitaneou a negociação que culminou com a adesão de parte do centrão ao governo e abriu as bases para a consolidação do presidencialismo de coalizão na atual gestão. Após bradar contra a “velha política”, contra o “toma lá, dá cá”, Bolsonaro repetiu métodos de seus antecessores no Planalto, negociando cargos e verbas em troca de votos para aliados no Congresso e estabilidade política. Tão próxima ficou a relação que Nogueira passou a ser chamado no Congresso de zero cinco, em referência à ordem numérica com a qual Bolsonaro se refere aos filhos.

A ÉPOCA, uma liderança do partido admitiu que as tratativas não avançaram muito, mas que é possível entregar parte do controle da legenda em alguns estados para o grupo do presidente a fim de garantir sua filiação. O interesse de Bolsonaro e, principalmente, de seus filhos, reside nos diretórios do Rio de Janeiro, reduto da família, e de São Paulo, estado pelo qual Eduardo Bolsonaro é deputado pelo PSL. O Progressistas, segundo essa liderança, estaria disposto a dar “conforto e segurança” ao “ex-correligionário”, filiado ao partido entre 2005 e 2016.

O retorno seria uma volta por cima do presidente à legenda da qual saiu brigado. Deputado inexpressivo e sem nenhum tipo de poder interno, Bolsonaro rompeu com Ciro Nogueira em 2016. Dois anos antes, tentou se colocar como candidato à Presidência. Nogueira, pragmaticamente, ignorou o pleito e manteve o apoio à reeleição da petista Dilma Rousseff. Os vídeos de Bolsonaro esbravejando contra a decisão de seu partido ainda estão no canal oficial do presidente no YouTube. “Oficiei o partido há 40 dias e o Ciro Nogueira não foi democrático comigo. Deu as costas para mim. Eu só pedi a eles só uma coisa: que encaminhassem meu ofício aos institutos de pesquisa. Eu queria ver se eu não tenho 1%, meio, 10, 15. Seja o que for, é um direito meu e um direito de qualquer um que está filiado ao PP”, discursou durante a convenção do partido em 25 de junho de 2014. A reunião terminou em confusão, como mostra outro vídeo também disponível no canal do presidente no YouTube. Depois da frustração, Bolsonaro deixou o PP e se filiou ao PSC, mas acabou disputando a eleição pelo PSL.

Contudo, um antigo “namoro” do presidente, ainda do tempo em que era um forasteiro na disputa presidencial, foi reativado e pode adiar a chance de o centrão sentar na cadeira número 1 de Brasília. Aliados de Bolsonaro defendem a ida para o nanico Patriota. A legenda de Adilson Barroso se chamava Partido Ecológico Nacional (PEN), mas mudou de nome em 2017 para ter o então deputado federal como candidato ao Planalto. De última hora, após interferência do advogado, o ex-ministro Gustavo Bebianno (morto em março de 2020), Bolsonaro desistiu dos Patriotas e se filiou ao PSL. O próprio presidente já demonstrou internamente predileção por essa opção, mas não quer correr os riscos assumidos no acordo feito com Luciano Bivar em 2018. Na época, Bolsonaro e Bebbiano só negociaram ficar no comando do PSL por um ano. Após a disputa, de nanico, o partido virou a segunda maior bancada federal, com acesso a um fundo partidário que pode chegar a R$ 500 milhões até 2022. Começou então uma briga que envolvia o controle do caixa.

O presidente da sigla, Adilson Barroso, costuma dizer que tem orado para que essa “bênção” se concretize. “Eu continuo orando, porque quem é que não quer um presidente que tenha praticamente os mesmos pensamentos que a gente? Nós já fomos adaptados para ele no passado. Posso dizer que eu, individualmente, peço a Deus o melhor para o meu partido”. A adesão, contudo, depende de toda a legenda, e é justamente aí que reside o entrave. Atualmente, a cúpula do Patriota é rachada, e Adilson, entusiasta da vinda de Bolsonaro, são minoria. No final de 2018, o Patriota anunciou a fusão com o PRP, controlado por Ovasco Resende, para cumprir a cláusula de barreira e ter direito ao fundo partidário. Com a associação, Barroso perdeu espaço. Embora siga presidente, Barroso tem apenas cerca de 30% do controle da sigla, enquanto Resende domina 50%. Os cerca de 20% restante estão nas mãos do deputado mineiro Fred Costa, líder do Patriota na Câmara.

Para piorar, o partido tem uma nova eleição até março do próximo ano para escolher um novo presidente. Ovasco Resende, segundo interlocutores, resiste em abrigar o presidente no Patriota sob a condição de ter de entregar a legenda. Se sua vontade prevalecer, será a segunda vez que ele se colocará nos planos de Bolsonaro. Na eleição de 2018, o atual ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno, então filiado ao PRP, foi escolhido como vice por Bolsonaro. Resende vetou, alegando que não queria participar da eleição majoritária. “Tudo não passa de especulação e conversa unilateral. Não fomos procurados para saber como o presidente pensa em querer entrar no partido”, disse Resende. O dirigente disse que o partido não pode estar fragilizado para receber o presidente da República e defende um crescimento orgânico. Resende também afirmou que não abrirá mão do comando, a exemplo do que ocorreu com o PSL. “Trabalhamos com construção e com o tempo, que vai alinhavando uma relação. Não existe possibilidade nenhuma de qualquer liderança vir para tomar o comando do partido. Isso é fora de qualquer mesa de conversa. Ou se confia no partido para o qual você vem ou não. Somos um partido sério”, disse.

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